Muitas pessoas me perguntam: Afinal, o que é terapia de família? Qual é a diferença entre uma orientação para pais e um atendimento familiar? Seria a terapia familiar apenas para crianças e seus responsáveis?
Começo dizendo que a terapia de família é para todos: filhos adultos e seus pais, casais, irmãos, famílias extensas ou reconfiguradas. Ela acolhe a diversidade dos modelos familiares, compreendendo que o que define uma família é a relação entre seus membros — não apenas os vínculos biológicos ou tradicionais.
Como terapeuta familiar, vejo cada indivíduo como parte de um sistema único. Mesmo com suas singularidades, todos estão em constante relação, influenciando-se mutuamente.
O foco da terapia não é buscar culpados, mas, por meio da compreensão dos padrões de funcionamento, das crenças compartilhadas e das formas de se relacionar — muitas vezes repetidas de maneira inconsciente — abrir espaço para novas possibilidades de vínculo, fortalecendo o senso de pertencimento, a autonomia e a diferenciação de cada membro da família.
"Nós construímos o mundo de forma diferente, e esta diferença encontra-se enraizada em nossas relações sociais, a partir das quais o mundo se tornou o que é."
— Kenneth J. Gergen
Na maioria das vezes, a família chega à terapia por indicação de um médico ou terapeuta individual, especialmente quando um dos seus membros apresenta um sintoma — seja ele físico ou emocional. Este sintoma, no entanto, pode ser entendido como um sinal de que algo no sistema familiar precisa ser olhado com mais atenção.
Há também famílias que buscam espontaneamente esse espaço, movidas pelo desejo de compreender melhor as tensões do cotidiano, lidar com mudanças, perdas, crises, ou simplesmente melhorar a comunicação e a convivência.
As sessões acontecem com a participação dos membros da família envolvidos naquela demanda. Nesse espaço, o terapeuta oferece sua escuta e seu olhar como instrumentos para ampliar a compreensão sobre as relações, questionar papéis cristalizados, revisitar crenças, ressignificar conflitos e abrir caminhos possíveis para novas formas de convivência.
A terapia de família não é sobre “consertar” alguém, mas sobre criar espaço para que todos possam ser ouvidos e vistos em sua humanidade — e, assim, encontrar juntos outras formas de viver as relações.
A psicoterapia é um encontro consigo mesmo, mediado pela relação com o terapeuta. As sessões individuais promovem reflexão e novos significados para as experiências vividas. Algumas vezes se inicia em momentos de crise e/ou transição — quando algo muda por fora ou dentro — mas também pode surgir do desejo de transformar, compreender ou simplesmente sentir de outro jeito.
Esse processo se dá por meio de encontros semanais, em que terapeuta e paciente, constroem caminhos possíveis para lidar com os desafios e sentidos que a vida desperta. É um percurso de descoberta, onde o olhar se volta para a singularidade de cada história — porque cada pessoa carrega, em si, um modo único de ser e sentir.
O processo psicoterapêutico não é uma receita pronta, mas um caminho que se desenha de acordo com as necessidades e desejos de quem o trilha. Buscar a psicoterapia é, portanto, um gesto de coragem e cuidado: um investimento em si mesmo, na esperança de viver com mais leveza, profundidade e presença, mesmo diante das dores e alegrias que nos atravessam.
"Tinha vantagens não saber do inconsciente, vinha tudo de fora, maus pensamentos, tentações, desejos. Contudo, ficar sabendo foi melhor, estou mais densa, tenho âncora, paro em pé por mais tempo..."
— Adélia Prado
A psicoterapia também pode ser uma necessidade para crianças e adolescentes, especialmente quando surgem comportamentos, emoções ou dificuldades que causam sofrimento ou impacto em sua rotina. Esses atendimentos costumam ser solicitados pelos pais, responsáveis ou encaminhados pela escola.
No trabalho com crianças, utilizamos recursos expressivos e lúdicos (como desenhos, histórias e brincadeiras), por meio dos quais elas conseguem simbolizar experiências, sentimentos e conflitos.
O atendimento com crianças requer uma escuta sensível ao simbólico. Jogos, brincadeiras e materiais expressivos — como o desenho, a modelagem e a contação de histórias — tornam-se as principais ferramentas terapêuticas, pois é por meio do lúdico que a criança fala, sente e elabora o que vive.
Na perspectiva da Teoria Sistêmica — abordagem que compreende a família como um sistema em constante interação — as relações entre os membros da família são essenciais para o entendimento do mundo interno de cada um. Assim, no atendimento infantil, o olhar do terapeuta se amplia para além da criança: acompanhar sua família faz parte do processo. É fundamental realizar um atendimento que construa uma rede de cuidado.
Compreender a criança, sua história, seu desenvolvimento psíquico e emocional é parte importante do trabalho. Mas também é preciso escutar como as relações familiares se organizam, pois muitas vezes o sintoma que a criança manifesta tem ligação direta com o contexto em que está inserida.
O terapeuta de família, portanto, atua não apenas com a escuta sensível da criança, mas com o olhar atento ao seu entorno, criando um espaço de reflexão conjunta para que todos possam se implicar no cuidado e nas transformações possíveis.
A Arteterapia e as Expressões Criativas podem ser utilizadas em sessões individuais assim como em grupos vivenciais, de acordo com o desejo e processo de cada um.
As técnicas expressivas proporcionam um envolvimento com a vida interna, seus sentimentos, emoções, memórias, histórias e afetos. Isso ocorre porque através de recursos artísticos (tinta, argila, colagem, histórias, etc) os símbolos do inconsciente são expressados e ganham vida externa. A expressão e o diálogo com essas imagens contribuem para que se encontrem novos jeitos de lidar e olhar para o que há em nós e no outro, resignificando a vida e colaborando para o desenvolvimento psicológico e emocional.
"...o fato de pintar um quadro o liberta de um estado psíquico deplorável, para que ele lance mão desse recurso cada vez mais que seu estado piora. O valor dessa descoberta é inestimável, pois é o primeiro passo para a independência...o paciente pode tornar-se independente em sua criatividade. Ao pintar-se a si mesmo - digamos assim - ele está se plasmando. O que pinta são fantasias ativas - aquilo que está mobilizado dentro de si. Agora há um sentido novo, que antes lhe era desconhecido: seu eu aparece como objeto, como objeto daquilo que está atuando dentro dele." (Carl Gustav Jung)